Miguel Gouveia: "As boas notícias que Trump e a OPEP+ não conseguiram estragar"
A crise económica global gerada pela pandemia levou a uma redução drástica na procura do petróleo, a qual por sua vez desencadeou uma queda abrupta dos preços. Em 2019, o preço médio do barril no mercado do Brent, o índice relevante para a Europa, foi de aproximadamente 66 dólares. A última cotação disponível, antes de este artigo ser escrito, estava perto dos 28 dólares.
As notícias são excelentes para países importadores como Portugal e a maior parte dos países europeus. Apesar de alguns meios de comunicação se terem deixado contagiar pela perspetiva dos países exportadores, em particular dos Estados Unidos, e apresentarem a descida do petróleo como algo negativo, com implicações depressoras dos mercados financeiros, a verdade é que uma redução do preço do petróleo diminui as despesas que países como Portugal têm de pagar ao exterior, resultando num aumento do rendimento nacional. Por outras palavras, quanto mais baixo o preço do petróleo, maior o PIB, se tudo o mais for constante. Claro que nem tudo o mais é constante, já que se está a desenvolver uma enorme crise económica que poderá baixar o PIB em cerca de 10%. É precisamente neste contexto que a redução do preço do petróleo constitui uma ajuda preciosa: os seus efeitos positivos no PIB contribuem para moderar a crise.
O efeito amortecedor da queda do preço do petróleo foi posto em risco quando os países da OPEP+ (OPEP e Rússia) e os Estados Unidos acordaram em cortes de aproximadamente 10% da produção mundial. O papel dos Estados Unidos, pressionando os preços em subida, foi uma novidade! Ele deve-se ao facto de, nos últimos anos, graças ao crescimento da extração de petróleo de xisto, os Estados Unidos terem passado de importadores a exportadores.
Tendo em conta que os consumidores e eleitores americanos não apreciam pagar mais por combustíveis, até agora o governo americano não tinha contribuído ativamente para subidas do preço do petróleo. Aparentemente a situação mudou, já que a atual administração americana, no seguimento da lógica protecionista que tem vindo a adotar, decidiu abandonar os consumidores e apoiar os produtores de petróleo de xisto, intervindo no sentido de promover a subida do preço do petróleo nos mercados globais.
É interessante notar que a intervenção americana foi peculiar e sem precedentes. A redução da produção de petróleo para todos os países produtores, negociada entre a Rússia e a Arábia Saudita, não estava a ser aceite pelo México, que se preparava para torpedear o acordo da OPEP+ vendendo mais petróleo que a sua quota permitiria. Trump aceitou implementar cortes na produção americana de petróleo que substituíssem os cortes atribuídos pela OPEP+ ao México, mas que os mexicanos não estavam dispostos a fazer! Assim, o cartel OPEP+ e EUA obteve o acordo dos mexicanos e o corte diário de aproximadamente 10 milhões de barris foi para a frente.
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