Dia Mundial da Língua Portuguesa: As cinco escolhas de Benedita Homem de Gouveia

Na semana em que celebramos o Dia Mundial da Língua Portuguesa, a 5 de maio, a Universidade Católica Portuguesa dá a conhecer as obras literárias escolhidas por três membros da comunidade académica para comemorar a língua portuguesa.

Terminamos a semana com a partilha das cinco escolhas da estudante Benedita Homem de Gouveia, finalista do curso de Comunicação Social e Cultural na Faculdade de Ciências Humanas:

1. Húmus, Raúl Brandão

Para mim, uma das maiores obras de arte da literatura portuguesa, senão mundial. Um tesouro nacional, subestimado e pouquíssimo divulgado, dada a sua grandeza e profundidade, um grito por amparo pela vida que passa e suas tragédias. De leitura ritmada e fragmentada, de estrutura narrativa atípica mas poética, a angústia existencial do ser e estar cá submergiu-me por uma panóplia de reflexões e pensamentos que, na minha opinião, foram alguma vez tão bem delineados e descritos através da beleza da nossa língua. “Sempre as mesmas coisas repetidas, as mesmas palavras, os mesmos hábitos. Construímos ao lado da vida outra vida que acabou por nos dominar. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem.

 

2. Livro do Desassossego, Fernando Pessoa
Com este livro, senti-me tanto mais acompanhada, como mais sozinha, caminhando de mãos dadas com o autor pelo seu/nosso labirinto. Encontrei nas palavras de “Bernardo Soares” um pouco de mim, do que penso, do que sou. Mas quem sou eu, de facto. Uma honesta introspeção sobre a brutalidade do quotidiano, descrita com toda a destreza da língua portuguesa, transparência e sensibilidade do que, para mim, é o mais imortal poeta da história. De ler e reler, sem qualquer princípio ou fim imposto. “Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.”

 

3. Viagens da Minha Terra, Almeida Garrett
Como o próprio Almeida Garrett confessa nas primeiras páginas da obra, “Estas minhas interessantes viagens hão de ser uma obra-prima, erudita, brilhante de pensamentos novos, uma coisa digna do século (...) a minha obra é um símbolo... é um mito, palavra grega, e de moda germânica, que se mete hoje em tudo e com que se explica tudo... quando se não sabe explicar.” Através de uma belíssima escrita, embarcamos numa 'excursão literária' entre Lisboa e Santarém, acompanhada por um romance cliché em plena guerra civil. Um retrato essencial, onde o autor denota as mais
oportunas divagações e críticas, repletas de simbolismo e ironia, face à realidade portuguesa e seus ideais. “A tudo se habitua o homem; a todo o estado se afaz; e não há vida, por mais estranha, que o tempo e a repetição dos actos lhe não faça natural.

 

4. Casa na Duna, Carlos de Oliveira
A impossibilidade de uma casa construída sobre uma montanha de areia e vento, a efemeridade do verbo ter. Uma história breve, de leitura sem pausas, sobre classes e sobrevivência, espelhando um país fechado sobre si mesmo, de forma extremamente realista, mas ao mesmo tempo mágica. É-nos possível reconhecer cada personagem, a ruralidade e idiossincrasias que, ainda hoje, tão bem nos representam. É um daqueles livros que preciso de ler num só dia pela sua crueza e fluidez. “Devia talvez cruzar os braços e deixar correr. Ser o cordeiro pacífico. Mas comigo o destino engana-se. Vou espernear até ao fim.”

 

5. Os Maias, Eça de Queirós
Aquele que foi, provavelmente, o primeiro grande romance da literatura portuguesa que muitos de nós (estudantes) teve a oportunidade e honra de conhecer, foi para mim a leitura que me lançou e ‘acorrentou’ a um futuro compreendido entre palavras, parágrafos, livros, preenchendo a minha visão romântica e idealista da realidade. A escrita de Eça de Queirós é incomparável, atrevo-me a dizer soberba, tornando as mais pormenorizadas descrições e os mais simples diálogos em autênticos vácuos de atenção e regozijo. É narrada uma forte crítica à sociedade portuguesa, uma idealização heróica do seu passado, repleta de ironia, comédia e romance, que afere ao autor o mérito de maior destreza da nossa língua, realçando aquilo de que é feita, do que é capaz de fazer, só ela e mais nenhuma. “- Falhámos a vida, menino! - Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «vou ser assim, porque a beleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Ás vezes melhor, mas sempre diferente.

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