Events

Featured this month

< >

Instituto de Bioética da Católica tem nova diretora

Sandra Martins Pereira é a nova responsável do Instituto de Bioética que poderá vir a ser integrado na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, em moldes ainda a definir.

A investigadora Sandra Martins Pereira é a nova diretora do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa. A nova diretora, que tomou posse a 18 de setembro, no Centro Regional do Porto da Universidade Católica, assume o cargo para um mandato de três anos (2020-2023).

A cerimónia decorreu na presença da Reitora da Universidade Católica Portuguesa e da presidente e dos diretores das unidades académicas do Centro Regional do Porto. 

Ler artigo completo aqui.

Conversas Cruzadas: "Desconfinar fase 2, reajuste do 'chip' existencial"

Duas semanas depois da primeira fase de desconfinamento (4 de maio) não há alterações de estratégia e a segunda fase de reabertura do país (já amanhã, 18 de maio) assenta na responsabilização dos diferentes setores pelo cumprimento de obrigações.

Na reunião técnica do Infarmed resultou que a análise dos indicadores dos indicadores do primeiro período (12 dias) é ainda inconclusiva com os portugueses a registar um grau de mobilidade abaixo do esperado e a grande distância do observado antes do estado de emergência.

Os especialistas indicam que a estratégia de reabrir faseadamente a economia com novos cuidados e rotinas de higienização está a resultar e as medidas de distanciamento social estão a funcionar como contenção ao vírus.

Mas factores como o medo, desconfiança ou incerteza impedem, no imediato, as dinâmicas económicas e sociais de retomar o seu curso ‘normal’? Nesta fase os sinais apontam em sentido afirmativo.

O choque da ‘crise das crises’ está a ser tão profundo que poucos processos sociais poderão ser ‘normalizados’ de imediato? O confinamento pode ter alterado atitudes em relação a quase tudo, em particular à dimensão territorial da vida social, exemplos no turismo e teletrabalho? Quando as diversas fases do desconfinamento terminarem quantos reajustes terá sofrido o nosso ‘chip’ existencial?

Para ouvir o podcast, clique aqui.

Researcher Sandra Martins Pereira is the new director of the Bioethics InstituteOn September 18th, the new director of the Bioet

On September 18th, the new director of Instituto de Bioética took office in the presence of the Rectress of the Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil. The researcher Sandra Martins Pereira, PhD in Bioethics and the first Portuguese to be part of the direction of the European Association of Palliative Care, assumes the direction of an Institute that was created in 2002 by the Superior Council of the Portuguese Catholic University, with the commitment to extend and adapt the research work in Bioethics to new developments in science and technology.

In her inauguration speech, Sandra Martins Pereira addressed the internal re-evaluation process that the Bioethics Institute underwent, which resulted in a report that proposes, among other points, its integration in Universidade Católica Portuguesa's Medical School, in a way still to be defined.

The new director of the Institute intends to promote a "transformational change and organizational culture, which includes the definition of a strategic plan and the realization of incremental changes that allow transformation and reinvention". The researcher intends to prepare Instituto de Bioética for its integration in the Medical School and "make it a center of excellence and national and international reference in research, education, reflection and discussion of bioethical issues, problems and challenges at the service of society," she concludes.

Between 1996 and 2003, Sandra Martins Pereira worked as a nurse in different university hospitals and was a professor at the University of the Azores between 2003 and 2013. In 2011, she completed her PhD in Bioethics at the Bioethics Institute, a program she currently coordinates. Later, she did post-doctoral training and participated in research projects related to end-of-life ethical issues and palliative care in countries such as the Netherlands and Belgium. Currently, she is a FCT principal researcher at CEGE - Centro de Estudos em Gestão e Economia da Universidade Católica Portuguesa, being co-principal researcher in the area of Sustainability and Ethics.

Know more here here.

Categorias: Instituto de Bioética

Thu, 24/09/2020

Sandra Martins Pereira: Cuidados paliativos: "Não deixemos ninguém para trás"

O segundo sábado de outubro assinala, à escala global, o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. O objetivo desta efeméride é sensibilizar a comunidade internacional para o significado e importância dos cuidados paliativos.

Vários têm sido os lemas designados pela World Hospice and Palliative Care Alliance (Aliança Mundial dos Cuidados Paliativos), entidade promotora desta efeméride. Em 2021, o lema é "Não deixemos ninguém para trás", numa tentativa de alertar para o princípio ético de justiça no acesso a cuidados paliativos para todas as pessoas que deles necessitem.

"Não deixar ninguém para trás" é, pois, um grito de alerta, uma chamada de atenção individual e coletiva para os problemas éticos de injustiça e iniquidade que existem globalmente no acesso a cuidados paliativos.

Mas, o que são cuidados paliativos?

São cuidados ativos, integrados e globais que têm por objetivo aliviar o sofrimento intenso decorrente duma doença incurável e/ou ameaçadora da vida. Estes cuidados consideram a pessoa doente e a sua família como o centro dos cuidados e são prestados de forma interdisciplinar.

Além de competências humanas e éticas, os cuidados paliativos assentam em competências técnicas e científicas diferenciadas e são hoje reconhecidos como uma especialidade médica e de enfermagem. Embora os cuidados prestados na chamada "fase terminal de vida" ou no "processo de fim de vida" sejam parte integrante dos cuidados paliativos, a verdade é que os cuidados paliativos podem e devem ser integrados desde o momento do diagnóstico, juntamente com tratamentos e cuidados com intenção curativa, e estendem-se para além da morte da pessoa doente ao incluírem o acompanhamento da família durante o processo de luto.

Ler artigo completo aqui.

Conversas Cruzadas: "Segunda vaga, sinalizadores de alarme"

Trinta mil novos casos acumulados em dois meses podem resultar em 1.200 internamentos e 300 infetados nos cuidados intensivos em simultâneo. O quadro é semelhante ao pico de Covid-19 em abril e, embora permita alguma folga na taxa de ocupação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), é a barreira que os peritos aconselham não ultrapassar.

Uma semana depois da primeira fase da reativação económica estar em marcha, uma segunda onda de contágio é possível. O número de infetados depende de vários fatores, desde logo, as alterações de comportamentos dos cidadãos.

Nos próximos dias os peritos voltam a apresentar ao governo os vários exercícios de simulação. Entre os indicadores seguidos de perto estão a deteção diária de novos casos, a velocidade de transmissão do vírus, consultas em cuidados primários, internamentos, mortes e idade dos doentes. O Rt (contágios médios por caso infetado) deverá baixar porque o distanciamento e uso de máscara são medidas para diminuir o risco.

São estes os ‘sinalizadores’ que os especialistas não perdem de vista numa altura em que todos os sinais da primeira semana de desconfinamento ainda são inconclusivos e os planos e calendarizações de reabertura da economia estão ainda dependentes da dinâmica dos indicadores epidemiológicos.

José Ribeiro e Castro, advogado e antigo líder do CDS, Nuno Botelho, empresário e presidente da Associação Comercial do Porto, e Ana Sofia Carvalho, professora de bioética na Universidade Católica Portuguesa, debatem os efeitos da Covid-19, a semana política nacional e o papel da China na pandemia do novo coronavírus.

Para ouvir o podcast, clique aqui.

António Jácomo: "A ética do planalto"

Desde o início da pandemia que somos assolados por um chorrilho de pareceres, relatórios, artigos, opiniões e reflexões sobre as questões éticas associadas à Covid-19.

Quase de forma frenética, vemos acotovelarem-se tomadas de posição que basicamente dizem o mesmo: começam com uma defesa da dignidade da vida humana, perante a indignidade da possibilidade de que a vida humana possa não ter o mesmo valor, e termina numa posição mais ou menos sedutora e reconfortante de defesa de um utilitarismo assente em três argumentos:

  1. A eficácia e a eficiência;
  2. A assistência ética à decisão clínica;
  3. O critério último da maximização do bem.

O argumento da eficácia sustém que, perante a escassez de recursos, é necessário maximizar os parcos bens, justificados pelo desinvestimento na área da saúde.

Na defesa do argumento da complementaridade da ética na decisão clínica, a lógica é a afirmar que à ética não está reservada a condição de propor respostas, mas uma condição supletiva da decisão que será sempre clínica.

Quanto ao terceiro argumento, o da maximização do bem, aventa-se a necessidade de justificar que, nas situações de crise, o bem individual deve ser subordinado ao bem comum.

Confesso que toda esta argumentação, tentadora e perniciosa, deixa-me inquieto, com a sofismática pergunta “Para que serve a ética?”. A maior parte das vezes, perante o corrupio da argumentação apresentada, esta pergunta parece inusitada. Mas, no fundo, há algo que não quadra, algo que choca com a intuição ética de que nos fala Robert Audi. A história da reflexão ética não pode agora ser reduzida a um mero adereço ao serviço de critérios economicistas camuflados.

Para acicatar ainda mais a questão, temos assistido a um exercício lúdico de distinção entre racionamento e racionalidade. Esta disputa, tão antiga quanto o próprio conceito de justiça, parece estar agora a ser reinventado, mesmo depois do parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) o ter abordado de forma tão polémica como consensual. Afinal, parece que falamos da mesma coisa quando utilizámos um ou outro termo. E o pior é que nem um nem outro dão resposta sobre a escolha de quem deve ser tratado.

No debate ético sobre a Covid-19, o racionamento tem sido o ponto central de uma argumentação com alguma falácia: a escassez de recurso obriga a uma política de rateio na alocação dos equipamentos, em especial os ventiladores, obrigando a uma seleção dos doentes que, à falta de critérios clínicos, se rege por critérios associados ao idadismo. Com este critério, os mais velhos, por serem velhos, seriam os últimos da lista.

O sofisma desta tese parte da assunção de que a escassez de recursos é inevitável e que justifica a renúncia ao lema societário ancestral sustentado nos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas “Não deixar ninguém para trás”.

Este lema, considerado por alguns idílico, recorda-me a brilhante distinção entre uma ética da responsabilidade e da convicção feita por Weber. Ao contrário de Maquiavel, que defendia que a missão da salvação da cidade era superior à da salvação da alma, Max Weber procurou conciliar as duas posições distinguindo entre ética de convicção e ética de responsabilidade na qual nos encontramos divididos entre uma ética livre e pessoal de convicção e a ética da responsabilidade determinada pela ponderação da circunstância. A circunstância justifica, assim, a impossibilidade de um juízo de valor pessoal, conduzindo a um pragmatismo utilitarista.

Ler artigo completo aqui.

Ana Sofia Carvalho: "Ajudar ou partilhar: As assimetrias e as oportunidades da Covid-19"

Entre o dia do trabalhador e o dia da mãe, resolvi escrever um artigo sobre as mulheres no trabalho… Hoje, pela situação excepcional que vivemos sou uma mãe muito mais presente, sou uma filha muito mais ausente, arranjei um novo emprego (doméstica), trabalho muito mais horas do que trabalhava uma vez que não tenho as rotinas criadas pelos horários e, faço tudo isto com brancas, sem verniz nas unhas e vestida informalmente, uma vez que a roupa formal representa mais um obstáculo às minhas competências de lavar e de passar a ferro…

Que a pandemia afecta de forma diferente os diferentes sexos é uma realidade incontornável. A mortalidade das mulheres parece ser significativamente menor mas, por outro lado, a violência sobre as mesmas, maior… Os estudos, poucos até à data, parecem indicar que as mulheres serão mais afectadas pelo desemprego que se avizinha, mas, por outro lado, em casa não têm um minuto livre, uma vez que, na maioria das vezes as consequências da declaração de situação de emergência que, resultou no encerramento das escolas e em mudanças significativas nos padrões de trabalho, afectaram de forma desproporcional as mulheres. Mas, de facto, as políticas projetadas para responder aos surtos parecem ser de “gênero” neutro, fazendo, no fundo, tábua rasa de todas estas desigualdades e, partindo do pressuposto errado que os homens e as mulheres serão infectados e afetados de forma igual.

Nas últimas semanas, à medida que a força de trabalho global se mudou para a Internet, a realidade da vida das pessoas passou a estar muito mais exposta: a cama desarrumada ao fundo, os copos sujos no aparador ou a criança que insiste em interromper a reunião. Por outro lado, entre as guerras com o aspirador entre duas reuniões de zoom, o estender a roupa, que tal como o pó tem nestes dias tem o dom da multiplicação ao infinito, entre duas aulas online ou, ainda mais exigente…acompanhar as crianças com o ensino à distância enquanto mantemos os auscultadores e meio cérebro na reunião de trabalho…quais equilibristas do Cirque du Soleil…À medida que o confinamento se estende de semanas a meses, este equilíbrio impossível torna-se ainda mais desafiante e os possíveis impactos negativos para a saúde mental e física, não serão, por certo, despiciendos.

Assim, esta janela indiscreta para a dualidade das nossas vidas terá, por certo de ter consequências. A primeira, terá de incluir mudanças dentro das estruturas familiares; se é evidente que nos últimos anos, tal como reforçado no Livro Branco Homens e Igualdade de Género em Portugal , assistimos a mudanças profundas; no entanto, tal como sublinhado, o movimento de entrada dos homens no universo da produção doméstica e da parentalidade cuidadora é um factor eminentemente geracional. Ou seja, este movimento terá que ser mais inclusivo; a necessidade de alterar o verbo “eu ajudo” para “eu partilho” é, sem dúvida, uma exigência. Em segundo lugar, esta pandemia ao expor a vida dupla das pessoas deverá ser encarada como uma oportunidade para aumentar o trabalho flexível e, mais importante, criar a consciência que a maioria de nós vive esta dualidade entre trabalho remunerado e não remunerado constante que tem, obrigatoriamente que ser reconhecida pelos governos e pelas entidades empregadoras.

Ler artigo completo aqui.

Ana Sofia Carvalho: "Quem deve ser salvo em caso de escolha"

Entrevista a Ana Sofia Carvalho, antiga diretora do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.


Temas abordados:

  • Ordem dos Médicos define critérios de escolha;
  • Meios podem não chegar para ajudar todos;
  • COVID-19/Quem deve ser salvo em caso de escolha.
     

Pode ouvir a entrevista aqui.

Researchers from the Bioethics Institute and CEGE published in the scientific journal Palliative Medicine

The research produced by the researchers Sandra Martins Pereira and Paulo Hernández-Marrero, subsequently published in the form of a scientific article in the most prestigious journal in the scientific area of palliative care worldwide (Palliative Medicine), and which also resulted in a post published in the blog of the European Association for Palliative Care (the largest palliative care association at an international level).

The publication of the study by researchers from the Institute of Bioethics and the Centre for Studies in Management and Economics (CEGE), entitled "Nursing competencies across different levels of palliative care provision: Highlighting the need for further research and international collaboration"is in the TOP 10 posts published in this blog in the second half of 2020.

Know more here.

Categorias: Instituto de Bioética

Thu, 15/07/2021

Ana Sofia Carvalho: "Guerra das vacinas"

A Rússia quer ganhar a corrida às vacinas contra a COVID-19. Os russos anunciaram que já tem uma vacina aprovada e que vão começar a vacinar em massa em outubro. Estados Unidos, Canadá e Reino Unido estão a pagar milhões às empresas que desenvolvem vacinas para garantir reservas e até o Brasil pondera produzir uma vacina. Comentários de Ana Sofia Carvalho, professora de Bioética na Universidade Católica Portuguesa.

A entrevista completa encontra-se disponível aqui a partir do minuto 17:20.

José António Tavares: "A nossa responsabilidade no sucesso da vacinação contra a Covid-19"

Há um ano, ninguém supunha que estariam para vir tempos tão desoladores… Para além da lamentável e irreparável perda de vidas humanas, a pandemia veio acentuar as preexistentes lacunas sociais, económicas e na saúde, já de si tão preocupantes. E ninguém passou incólume. Ao longo dos últimos meses, de uma forma mais directa ou menos directa, umas pessoas mais, outras menos, toda a gente foi afectada pelo vírus SARS-CoV-2.

No processo de vacinação agora iniciado, não obstante não serem expectáveis efeitos indesejáveis fora do comum, importa que estejamos atentos; sabemos, hoje, que a administração da vacina contra a Covid-19 nas pessoas com tendência para desencadearem reacções anafilácticas graves deverá ser devidamente ponderada. Em boa verdade, sejamos realistas, não existe a vacina perfeita. Tampouco, o que habitualmente designamos por medicamento é totalmente isento de riscos. Ambos, num dado momento e em determinadas circunstâncias, podem ter efeitos indesejáveis. Estes, felizmente, são, regra geral, passageiros. Recordam-se, certamente, os caros leitores do aforismo: “A sociedade exige segurança e quere-a absoluta, embora esta nunca exista.” Todavia, as vantagens das vacinas são, sem qualquer dúvida, muito superiores aos seus inconvenientes. De facto, a História da Medicina tem demonstrado que os benefícios, quer dos medicamentos, quer das vacinas, superam largamente os riscos que, porventura, deles possam advir.

Lograr disponibilizar uma vacina de qualidade, segura e eficaz contra a Covid-19, num tão curto intervalo de tempo, foi um feito notável. Atente-se no facto de que o desenvolvimento de uma vacina demora, em média, 8 a 10 anos.

Ler artigo completo aqui.

Joana Araújo: "A vulnerabilidade dos ensaios clínicos"

Matshidiso Moeti, diretora da Organização Mundial de Saúde (OMS) África, no dia 9 de julho durante uma conferência promovida pelo escritório para África da OMS, defendeu a importância de definir procedimentos para a participação das populações e cientistas africanos nos ensaios clínicos de modo a “assegurar que são feitos de acordo com os mais altos padrões internacionais”.

Ler artigo completo aqui.

Nota: Este artigo faz parte da versão exclusiva para assinantes do Público

Católica researcher named vice-president of the European Association for Palliative Care

Sandra Martins Pereira, FCT Principal Investigator at CEGE (Research Center in Management and Economics) and at the Institute of Bioethics, was recently nominated vice-president of the European Association for Palliative Care (EAPC).

More information

Applications open for PhD in Bioethics

The applications for the 6th edition of the PhD in Bioethics of the Instituto de Bioética of the Universidade Católica Portuguesa are now open. Applications end on December 30.

  • Applications: until December 30, 2021
  • Interviews: from January 10 to 14, 2022
  • Enrolment: from January 17 to 21, 2022
  • Start of classes: January 27, 2022

This PhD Programme aims at critical reflection taking into account the fundamentals of Bioethics, based on the development of scientific maturity and capacity to investigate and produce science in an autonomous, responsible and original way.

The PhD programme in bioethics is coordinated and taught by experts in bioethics and related fields (health sciences, health policies, research in health sciences and services, among others), who will provide an excellent training path for future bioethicists. This programme is unique for the opportunities it will give students to conduct empirical research in bioethics.

The classes of this edition will take place in person at the facilities of the Católica Medical School in Sintra, on Thursdays, from 4 p.m. to 8 p.m., and Fridays, from 4 p.m. to 8 p.m.

For more information, you can contact: espacodocandidato.sede@ucp.pt or secretariaescolar.sede@ucp.pt.

You can request a meeting with the coordinator of the PhD: Professor Sandra Martins Pereira

All information about the programme and applications is available here.

Categorias: Instituto de Bioética

Tue, 16/11/2021

Ana Sofia Carvalho: "Dar a vacina aos países mais pobres é também uma forma de nos proteger"

Ana Sofia Carvalho, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, acredita que a necessidade de se atingir a imunidade de grupo pode precipitar a solidariedade, pois "tudo o que é instrumental é mais fácil de ser acolhido". Este domingo fica marcado, em Portugal, por esse passo histórico do início da vacinação anti-Covid.

E este é um momento que nos volta a remeter para os apelos do Papa e também das Nações Unidas, para que seja possível o acesso universal à vacina. Na última semana, a Congregação para a Doutrina da Fé emitiu uma nota em que, entre outras coisas, volta a pedir que "as vacinas sejam acessíveis aos mais pobres e de forma não onerosa para eles". Segundo aquele organismo da Santa Sé, a falta de acesso às vacinas tornar-se-ia "mais um motivo de discriminação e de injustiça que condena os países pobres a continuar a viver na indigência sanitária, económica e social".

Na opinião de Ana Sofia Carvalho, membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, a necessidade de se criar uma imunidade de grupo geral pode precipitar a necessária solidariedade para com os mais desprotegidos. A professora do Instituto de Bioética da Universidade Católica sugere que, "normalmente, tudo o que é mais instrumental é mais fácil de ser acolhido, como medida solidária" e lembra que, "enquanto não tivermos a população mundial vacinada, sabemos que não existirá uma imunidade do ponto de vista geral". 

Ler artigo completo aqui.

Passaportes de imunidade. Chave para o regresso ao normal, ou mais dores de cabeça Covid?

São já vários os países que discutem a possibilidade de se criar um passaporte de imunidade Covid-19 que possa permitir a algumas pessoas regressar à dita vida normal e viajar, aceder a certos espaços e eventos e evitar quarentenas ou confinamentos, mas há questões éticas e jurídicas complexas a considerar.

O princípio é bastante simples. O documento incluiria a informação sobre o estado de imunidade da pessoa, seja porque foi vacinada, seja porque já esteve infetada e tem um grau de imunidade comprovada. Embora sejam, por vezes, descritos como "passaportes de vacina", a verdade é que a informação sobre a vacinação é apenas um aspeto entre vários e o importante é aferir a imunidade do portador.

Países como a Alemanha, Dinamarca, Suécia, Reino Unido e Chile, entre outros, já estão a explorar a ideia e há várias empresas de tecnologia a trabalhar na criação de soluções nesse sentido. Para Ana Sofia Carvalho, pode ser uma solução para o regresso à normalidade, mas a discussão é prematura.

"Obviamente que isso pode ser uma solução muito interessante no sentido de nos permitir de alguma forma voltar ao normal, ou de parte da população conseguir voltar ao normal. O que acontece com a imunidade é que nós temos, neste momento, muitas dúvidas científicas, ou seja, não se sabe nem qual é o grau, nem o tipo de imunidade adquirida, e aqui estamos a falar não só das pessoas que já foram vacinadas, mas também daquelas que apanharam a doença, ou seja, não sabemos se aquilo só vai atenuar sintomas graves, se vai prevenir o aparecimento de sintomas, se vai prevenir a infeção subsequente, se realmente previne a transmissão. E mesmo relativamente aos vacinados, não se sabe quanto tempo é que aquela imunidade dura", diz à Renascença a professora do Instituo de Bioética da Universidade Católica Portuguesa.

Não obstante, para esta especialista há uma dimensão ética indiscutível e que vai no sentido de se aceitarem os passaportes. "Do ponto de vista ético é sustentável que, se se provar verdadeiramente que as pessoas têm um grau de imunidade e que não transmitem a infeção, não é legítimo mantê-las em confinamento", diz. "Porque nós sabemos que o confinamento põe em causa um conjunto de princípios éticos, como por exemplo a autonomia e a liberdade, e outras garantias que estão constitucionalmente protegidas. Portanto, sabendo, e tendo dados fiáveis de que essas pessoas realmente não só não ficam doentes como não transmitem a doença, é complicado do ponto de vista ético e jurídico mantê-las em casa."

Ana Sofia Carvalho defende que, se o objetivo é apenas registar a vacinação, então é curto, pois tendo em conta os planos de vacinação na Europa o desejo de relançar a economia não seria conseguido, uma vez que se está a dar prioridade a profissionais de saúde e a pessoas mais vulneráveis, nomeadamente os idosos. Já o registo da imunidade conseguida por outros meios, sobretudo por infeção e recuperação, apresenta outras preocupações éticas. "Uma das grandes críticas relativamente ao passaporte da imunidade é de as pessoas de alguma forma poderem querer apanhar a doença só para ter direito ao passaporte, ou mesmo, em situações mais precárias, serem coagidas a ficar doentes."

Ler artigo completo aqui.

Mara de Sousa Freitas: "Health for all, a path, a horizon: bioethics"

7 April 2023 is World Health Day. This date marks the anniversary of the founding of the World Health Organization (WHO) in 1948, and this year, in addition to highlighting the importance of "achieving health for all", the celebration of WHO's 75th anniversary is an opportunity to remember the journey towards continuous improvement in public health and quality of life. This year's theme, Health for All, takes us back to the Ottawa Charter, adopted at the First International Conference on Health Promotion in November 1986. The search, as the charter states, "for a response to the growing expectations for a new public health" and for "health for all in the year 2000" - a persistent question, a path to be followed, a horizon to be attained.

On this horizon - achieving Health for All - what is the importance of bioethics?

Health is a complex construction shared and experienced by, for and with people. It concerns processes experienced and inserted in a singular life context, with multiple determinants requiring integrated and holistic responses. Health is materialised in the care that each person has for themselves and others; in the ability to exercise their autonomy and make choices, to be able to judge the data of a given situation or behaviour and know how to choose in their best interest, but also, whenever necessary, considering the common good, with independence, judgement and knowledge.

Health requires access, distribution and allocation of resources, and the sharing of rights, duties and responsibilities among citizens, civil society, health professionals, political leaders and actors. Health requires justice, equity, fairness, cooperation and solidarity. Creating more and better health for all is an expression of respect and responsibility for present and future generations, as it places care at the heart of human vulnerability.

Bioethics is therefore the necessary and urgent knowledge in the face of the multiple challenges and horizons for health. To acquire this horizon it is necessary "to learn to see beyond what is close, too close, not to look away, but to see better, in a wider set and in more current proportions" (1). Bioethics in the analysis of the issues raised by the development of new technologies applied to life and health sciences - but also in the ethical analysis of the multiple issues of management, practice, and strategic health planning, in Portugal - plays a core role, as it may contribute to solutions that effectively serve the needs of people and society, that (re)affirm human values and ethics as a "practical science" - it is urgent to see beyond what is near, it is urgent to think and act with (Bio)Ethics.

Bioethics is, in the original words, respect for "every living being, on principle as an end in itself (Fritz Jahr, 1927); It is the bridge to the future, based on a new wisdom, that of knowing how to use the (new) knowledge for the survival of man and for the best quality of life (Potter, 1971), so, on the path to this horizon, celebrated and acclaimed today - and so necessary - we need Bioethics and people trained in bioethics, we need to train people in this knowledge, cultivate science and research with social and scientific value, we need to promote good practices in health, the ethics of health and, in this way, renew the country, through excellence and by example.

As a corollary, I recall the words of Susan Sontag (2) on citizenship, she tells us that "everyone who is born holds dual citizenship, in the kingdom of the well and in the kingdom of the sick. Although we all prefer to use the good passport, sooner or later each of us is obliged, at least for a spell, to identify ourselves as citizens of that other place", thus, to achieve Health for All, the continuous improvement of public health and quality of life, it is necessary that this is an issue that concerns everyone and that everyone has an important role to play, "we must understand that we do not die because we are ill, we become ill because we are mortal" (Maurice Tubiana, 2000) (3).


(1) GADAMER, Hans-Georg, - O mistério da Saúde, O cuidado da saúde e a arte da medicina. Tradução de António Hall. Edições 70. 2002.

(2) SONTAG, Susan, – A doença como metáfora – A Sida e as suas Metáforas – Tradução de José Lima. Quentzal Editores. 2009.

(3) TUBIANA, Maurice, - História da Medicina e do Pensamento Médico, Lisboa. Teorema, 2000.

POTTER, Van Rensselaer - Bioethics: bridge to the future, 1971.

Soon

Instituto de Bioética da Católica tem nova diretora

Sandra Martins Pereira é a nova responsável do Instituto de Bioética que poderá vir a ser integrado na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, em moldes ainda a definir.

A investigadora Sandra Martins Pereira é a nova diretora do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa. A nova diretora, que tomou posse a 18 de setembro, no Centro Regional do Porto da Universidade Católica, assume o cargo para um mandato de três anos (2020-2023).

A cerimónia decorreu na presença da Reitora da Universidade Católica Portuguesa e da presidente e dos diretores das unidades académicas do Centro Regional do Porto. 

Ler artigo completo aqui.

Conversas Cruzadas: "Desconfinar fase 2, reajuste do 'chip' existencial"

Duas semanas depois da primeira fase de desconfinamento (4 de maio) não há alterações de estratégia e a segunda fase de reabertura do país (já amanhã, 18 de maio) assenta na responsabilização dos diferentes setores pelo cumprimento de obrigações.

Na reunião técnica do Infarmed resultou que a análise dos indicadores dos indicadores do primeiro período (12 dias) é ainda inconclusiva com os portugueses a registar um grau de mobilidade abaixo do esperado e a grande distância do observado antes do estado de emergência.

Os especialistas indicam que a estratégia de reabrir faseadamente a economia com novos cuidados e rotinas de higienização está a resultar e as medidas de distanciamento social estão a funcionar como contenção ao vírus.

Mas factores como o medo, desconfiança ou incerteza impedem, no imediato, as dinâmicas económicas e sociais de retomar o seu curso ‘normal’? Nesta fase os sinais apontam em sentido afirmativo.

O choque da ‘crise das crises’ está a ser tão profundo que poucos processos sociais poderão ser ‘normalizados’ de imediato? O confinamento pode ter alterado atitudes em relação a quase tudo, em particular à dimensão territorial da vida social, exemplos no turismo e teletrabalho? Quando as diversas fases do desconfinamento terminarem quantos reajustes terá sofrido o nosso ‘chip’ existencial?

Para ouvir o podcast, clique aqui.

Researcher Sandra Martins Pereira is the new director of the Bioethics InstituteOn September 18th, the new director of the Bioet

On September 18th, the new director of Instituto de Bioética took office in the presence of the Rectress of the Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil. The researcher Sandra Martins Pereira, PhD in Bioethics and the first Portuguese to be part of the direction of the European Association of Palliative Care, assumes the direction of an Institute that was created in 2002 by the Superior Council of the Portuguese Catholic University, with the commitment to extend and adapt the research work in Bioethics to new developments in science and technology.

In her inauguration speech, Sandra Martins Pereira addressed the internal re-evaluation process that the Bioethics Institute underwent, which resulted in a report that proposes, among other points, its integration in Universidade Católica Portuguesa's Medical School, in a way still to be defined.

The new director of the Institute intends to promote a "transformational change and organizational culture, which includes the definition of a strategic plan and the realization of incremental changes that allow transformation and reinvention". The researcher intends to prepare Instituto de Bioética for its integration in the Medical School and "make it a center of excellence and national and international reference in research, education, reflection and discussion of bioethical issues, problems and challenges at the service of society," she concludes.

Between 1996 and 2003, Sandra Martins Pereira worked as a nurse in different university hospitals and was a professor at the University of the Azores between 2003 and 2013. In 2011, she completed her PhD in Bioethics at the Bioethics Institute, a program she currently coordinates. Later, she did post-doctoral training and participated in research projects related to end-of-life ethical issues and palliative care in countries such as the Netherlands and Belgium. Currently, she is a FCT principal researcher at CEGE - Centro de Estudos em Gestão e Economia da Universidade Católica Portuguesa, being co-principal researcher in the area of Sustainability and Ethics.

Know more here here.

Categorias: Instituto de Bioética

Thu, 24/09/2020

Sandra Martins Pereira: Cuidados paliativos: "Não deixemos ninguém para trás"

O segundo sábado de outubro assinala, à escala global, o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. O objetivo desta efeméride é sensibilizar a comunidade internacional para o significado e importância dos cuidados paliativos.

Vários têm sido os lemas designados pela World Hospice and Palliative Care Alliance (Aliança Mundial dos Cuidados Paliativos), entidade promotora desta efeméride. Em 2021, o lema é "Não deixemos ninguém para trás", numa tentativa de alertar para o princípio ético de justiça no acesso a cuidados paliativos para todas as pessoas que deles necessitem.

"Não deixar ninguém para trás" é, pois, um grito de alerta, uma chamada de atenção individual e coletiva para os problemas éticos de injustiça e iniquidade que existem globalmente no acesso a cuidados paliativos.

Mas, o que são cuidados paliativos?

São cuidados ativos, integrados e globais que têm por objetivo aliviar o sofrimento intenso decorrente duma doença incurável e/ou ameaçadora da vida. Estes cuidados consideram a pessoa doente e a sua família como o centro dos cuidados e são prestados de forma interdisciplinar.

Além de competências humanas e éticas, os cuidados paliativos assentam em competências técnicas e científicas diferenciadas e são hoje reconhecidos como uma especialidade médica e de enfermagem. Embora os cuidados prestados na chamada "fase terminal de vida" ou no "processo de fim de vida" sejam parte integrante dos cuidados paliativos, a verdade é que os cuidados paliativos podem e devem ser integrados desde o momento do diagnóstico, juntamente com tratamentos e cuidados com intenção curativa, e estendem-se para além da morte da pessoa doente ao incluírem o acompanhamento da família durante o processo de luto.

Ler artigo completo aqui.

Conversas Cruzadas: "Segunda vaga, sinalizadores de alarme"

Trinta mil novos casos acumulados em dois meses podem resultar em 1.200 internamentos e 300 infetados nos cuidados intensivos em simultâneo. O quadro é semelhante ao pico de Covid-19 em abril e, embora permita alguma folga na taxa de ocupação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), é a barreira que os peritos aconselham não ultrapassar.

Uma semana depois da primeira fase da reativação económica estar em marcha, uma segunda onda de contágio é possível. O número de infetados depende de vários fatores, desde logo, as alterações de comportamentos dos cidadãos.

Nos próximos dias os peritos voltam a apresentar ao governo os vários exercícios de simulação. Entre os indicadores seguidos de perto estão a deteção diária de novos casos, a velocidade de transmissão do vírus, consultas em cuidados primários, internamentos, mortes e idade dos doentes. O Rt (contágios médios por caso infetado) deverá baixar porque o distanciamento e uso de máscara são medidas para diminuir o risco.

São estes os ‘sinalizadores’ que os especialistas não perdem de vista numa altura em que todos os sinais da primeira semana de desconfinamento ainda são inconclusivos e os planos e calendarizações de reabertura da economia estão ainda dependentes da dinâmica dos indicadores epidemiológicos.

José Ribeiro e Castro, advogado e antigo líder do CDS, Nuno Botelho, empresário e presidente da Associação Comercial do Porto, e Ana Sofia Carvalho, professora de bioética na Universidade Católica Portuguesa, debatem os efeitos da Covid-19, a semana política nacional e o papel da China na pandemia do novo coronavírus.

Para ouvir o podcast, clique aqui.

António Jácomo: "A ética do planalto"

Desde o início da pandemia que somos assolados por um chorrilho de pareceres, relatórios, artigos, opiniões e reflexões sobre as questões éticas associadas à Covid-19.

Quase de forma frenética, vemos acotovelarem-se tomadas de posição que basicamente dizem o mesmo: começam com uma defesa da dignidade da vida humana, perante a indignidade da possibilidade de que a vida humana possa não ter o mesmo valor, e termina numa posição mais ou menos sedutora e reconfortante de defesa de um utilitarismo assente em três argumentos:

  1. A eficácia e a eficiência;
  2. A assistência ética à decisão clínica;
  3. O critério último da maximização do bem.

O argumento da eficácia sustém que, perante a escassez de recursos, é necessário maximizar os parcos bens, justificados pelo desinvestimento na área da saúde.

Na defesa do argumento da complementaridade da ética na decisão clínica, a lógica é a afirmar que à ética não está reservada a condição de propor respostas, mas uma condição supletiva da decisão que será sempre clínica.

Quanto ao terceiro argumento, o da maximização do bem, aventa-se a necessidade de justificar que, nas situações de crise, o bem individual deve ser subordinado ao bem comum.

Confesso que toda esta argumentação, tentadora e perniciosa, deixa-me inquieto, com a sofismática pergunta “Para que serve a ética?”. A maior parte das vezes, perante o corrupio da argumentação apresentada, esta pergunta parece inusitada. Mas, no fundo, há algo que não quadra, algo que choca com a intuição ética de que nos fala Robert Audi. A história da reflexão ética não pode agora ser reduzida a um mero adereço ao serviço de critérios economicistas camuflados.

Para acicatar ainda mais a questão, temos assistido a um exercício lúdico de distinção entre racionamento e racionalidade. Esta disputa, tão antiga quanto o próprio conceito de justiça, parece estar agora a ser reinventado, mesmo depois do parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) o ter abordado de forma tão polémica como consensual. Afinal, parece que falamos da mesma coisa quando utilizámos um ou outro termo. E o pior é que nem um nem outro dão resposta sobre a escolha de quem deve ser tratado.

No debate ético sobre a Covid-19, o racionamento tem sido o ponto central de uma argumentação com alguma falácia: a escassez de recurso obriga a uma política de rateio na alocação dos equipamentos, em especial os ventiladores, obrigando a uma seleção dos doentes que, à falta de critérios clínicos, se rege por critérios associados ao idadismo. Com este critério, os mais velhos, por serem velhos, seriam os últimos da lista.

O sofisma desta tese parte da assunção de que a escassez de recursos é inevitável e que justifica a renúncia ao lema societário ancestral sustentado nos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas “Não deixar ninguém para trás”.

Este lema, considerado por alguns idílico, recorda-me a brilhante distinção entre uma ética da responsabilidade e da convicção feita por Weber. Ao contrário de Maquiavel, que defendia que a missão da salvação da cidade era superior à da salvação da alma, Max Weber procurou conciliar as duas posições distinguindo entre ética de convicção e ética de responsabilidade na qual nos encontramos divididos entre uma ética livre e pessoal de convicção e a ética da responsabilidade determinada pela ponderação da circunstância. A circunstância justifica, assim, a impossibilidade de um juízo de valor pessoal, conduzindo a um pragmatismo utilitarista.

Ler artigo completo aqui.

Ana Sofia Carvalho: "Ajudar ou partilhar: As assimetrias e as oportunidades da Covid-19"

Entre o dia do trabalhador e o dia da mãe, resolvi escrever um artigo sobre as mulheres no trabalho… Hoje, pela situação excepcional que vivemos sou uma mãe muito mais presente, sou uma filha muito mais ausente, arranjei um novo emprego (doméstica), trabalho muito mais horas do que trabalhava uma vez que não tenho as rotinas criadas pelos horários e, faço tudo isto com brancas, sem verniz nas unhas e vestida informalmente, uma vez que a roupa formal representa mais um obstáculo às minhas competências de lavar e de passar a ferro…

Que a pandemia afecta de forma diferente os diferentes sexos é uma realidade incontornável. A mortalidade das mulheres parece ser significativamente menor mas, por outro lado, a violência sobre as mesmas, maior… Os estudos, poucos até à data, parecem indicar que as mulheres serão mais afectadas pelo desemprego que se avizinha, mas, por outro lado, em casa não têm um minuto livre, uma vez que, na maioria das vezes as consequências da declaração de situação de emergência que, resultou no encerramento das escolas e em mudanças significativas nos padrões de trabalho, afectaram de forma desproporcional as mulheres. Mas, de facto, as políticas projetadas para responder aos surtos parecem ser de “gênero” neutro, fazendo, no fundo, tábua rasa de todas estas desigualdades e, partindo do pressuposto errado que os homens e as mulheres serão infectados e afetados de forma igual.

Nas últimas semanas, à medida que a força de trabalho global se mudou para a Internet, a realidade da vida das pessoas passou a estar muito mais exposta: a cama desarrumada ao fundo, os copos sujos no aparador ou a criança que insiste em interromper a reunião. Por outro lado, entre as guerras com o aspirador entre duas reuniões de zoom, o estender a roupa, que tal como o pó tem nestes dias tem o dom da multiplicação ao infinito, entre duas aulas online ou, ainda mais exigente…acompanhar as crianças com o ensino à distância enquanto mantemos os auscultadores e meio cérebro na reunião de trabalho…quais equilibristas do Cirque du Soleil…À medida que o confinamento se estende de semanas a meses, este equilíbrio impossível torna-se ainda mais desafiante e os possíveis impactos negativos para a saúde mental e física, não serão, por certo, despiciendos.

Assim, esta janela indiscreta para a dualidade das nossas vidas terá, por certo de ter consequências. A primeira, terá de incluir mudanças dentro das estruturas familiares; se é evidente que nos últimos anos, tal como reforçado no Livro Branco Homens e Igualdade de Género em Portugal , assistimos a mudanças profundas; no entanto, tal como sublinhado, o movimento de entrada dos homens no universo da produção doméstica e da parentalidade cuidadora é um factor eminentemente geracional. Ou seja, este movimento terá que ser mais inclusivo; a necessidade de alterar o verbo “eu ajudo” para “eu partilho” é, sem dúvida, uma exigência. Em segundo lugar, esta pandemia ao expor a vida dupla das pessoas deverá ser encarada como uma oportunidade para aumentar o trabalho flexível e, mais importante, criar a consciência que a maioria de nós vive esta dualidade entre trabalho remunerado e não remunerado constante que tem, obrigatoriamente que ser reconhecida pelos governos e pelas entidades empregadoras.

Ler artigo completo aqui.

Ana Sofia Carvalho: "Quem deve ser salvo em caso de escolha"

Entrevista a Ana Sofia Carvalho, antiga diretora do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.


Temas abordados:

  • Ordem dos Médicos define critérios de escolha;
  • Meios podem não chegar para ajudar todos;
  • COVID-19/Quem deve ser salvo em caso de escolha.
     

Pode ouvir a entrevista aqui.