Alexandre Castro Caldas: "É preciso fazer a discussão da ética do neuromarketing"
"A questão não é que seja mais difícil, a questão é que, neste momento, já há técnicas que dominam o "A questão não é que seja mais difícil, a questão é que, neste momento, já há técnicas que dominam o marketing. Tem a ver com a discussão da ética do neuromarketing".
Alerta Alexandre Castro Caldas, professor catedrático de Neurologia e Director do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa [UCP], sobre o porquê de ser mais difícil, actualmente, difundir informação científica verídica, e ser mais fácil a difusão de informação nem sempre credível.
Em conjunto com Joana Rato, neuropsicóloga e investigadora no Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, também da UCP, Alexandre Castro Caldas publicou, em Abril de 2020, o livro Neuromitos, uma obra que se dedica a desconstruir ideias erradas mas fortemente enraizadas na população, acerca do cérebro e do seu funcionamento.
Conceitos que afirmam que só utilizamos, por exemplo, 10 por cento da nossa actividade cerebral (ideia difundida também pelo cinema); de que ouvir música clássica nos torna mais inteligentes e de que os irmãos mais velhos tendem a ter um Q.I mais elevado (ideia difundida pela própria comunicação social profissional e cuja notícia se replicou incontáveis vezes nas redes sociais), são devidamente esclarecidos e explicados.
Neuromitos é uma obra que não descura a cientificidade exigida, mas a sua escrita é clara e acessível a qualquer leitor, mesmo que não seja da área da saúde ou investigação científica. Segundo o que podemos ler na obra, o cidadão acredita na ciência com os mesmos instrumentos cognitivos com que acredita numa qualquer outra coisa, o problema está mesmo no marketing e nas estratégias utilizadas, capazes de inculcar na mente de alguém uma ideia científica falsa.
Não há, portanto, uma atitude paternalista perante o leitor, mesmo que não seja da área da saúde, há sim um alerta de que, numa altura em que aumenta o interesse da população em geral pelas neurociências e psicologia, há que ter a responsabilidade do que se comunica, o que se comunica e como essa comunicação é feita. A comunidade científica também tem de aprender a comunicar melhor.
Trata-se de uma discussão que extrapola o âmbito da saúde e nos faz pensar, igualmente, na sociedade actual de fake news em que vivemos. Por isso mesmo, Carlos Fiolhais afirma no prefácio do livro: "vivemos na época das notícias falsas (fake news), que por serem falsas nem sequer deviam merecer o nome de notícias, e da verdade alternativa (alternative truth), um termo enganador pois a verdade não tem qualquer alternativa."
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