André Azevedo Alves: "As lideranças mais extremistas moderam-se"

André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, traça um perfil do Chega. "Adotou as bandeiras mais populares da Direita mais radical sem, no entanto, no seu discurso, colocar em causa o regime democrático e a democracia liberal."

É a tentativa de explorar as causas populistas da Direita, juntando as capacidades retóricas do seu líder que se confunde com opróprio partido. O trajeto é típico, perceber que há descontentamento na classe média e baixa, suburbana, com questões como a criminalidade, insegurança, questões étnicas, corrupção. E insistir no discurso "nós versus eles" como um porta-voz de um conjunto de descontentes. Onde há potencial, há estratégia. E a normalização acontece com o partido a entrar no jogo governativo e a querer a sua fatia de bolo do poder.

O Chega pode ir para qualquer lado. Num partido estruturado, o que habitualmente acontece é que as lideranças mais extremistas se moderam, viram-se para causas mais populares. "O caminho para o relativo sucesso eleitoral passa quase sempre por uma moderação do discurso", sustenta opolitólogo. A questão é quando a dicotomia nós/eles deixa de fazer sentido, quando há influência direta sobre o poder. "Pode fazer a quadratura do círculo, estar dentro e discursar como estando de fora."

O Chega está para durar? "Vai haver um crescimento do mercado eleitoral do Chega. Se vai ser bem-sucedido, não sabemos", responde João Carvalho. A estratégia poderá passar por atrair pessoas de outros partidos e começar a aumentar o nível de credibilidade dos seus quadros. A questão é que, em seu entender, o discurso do Chega não é desconstruído. Quem são os portugueses de primeira, quem são os portugueses de segunda? "Não lhe perguntam se será tirando os 54 milhões do Rendimento Social de Inserção que vamos financiar as consultas no privado. Este discurso passa impunemente", refere o investigador.

A "Notícias Magazine" tentou, sem sucesso, obter reações de André Ventura. Jorge Pires, dissidente e descontente do Chega, demitiu-se e desfiliou-se do partido, depois do convite para ficar à frente da Distrital do Porto. Bateu com a porta, não por não se rever no projeto, mas pela falta de coerência: o vice-presidente do partido está nos órgãos sociais de uma fundação, quando o Chega é contra as fundações que têm benefícios fiscais.

"O Chega é um partido antissistema, é um partido de causas, é um partido de descontentes que não têm quem olhe por eles." Mas Jorge Pires vê problemas. " Os conflitos internos vão dar cabo do partido. Há muitos que veem uma oportunidade de vingar, de protagonismo, de palco que nunca tiveram", salienta. E o partido pode implodir na discussão de lugares.

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