Joana Rato: "Adolescentes: os mestres da procrastinação académica"

O ditado popular "não deixes para amanhã o que podes fazer hoje" é conhecido de todos, mas isso não impede muitos adolescentes de serem mestres em procrastinação académica. Este comportamento, identificado em diversos contextos culturais, traduz-se num adiamento deliberado das tarefas escolares e pode ter impactos negativos, quer no desempenho académico quer no bem-estar psicológico dos alunos.

Os adolescentes trocam com facilidade as tarefas escolares por atividades que lhes dão prazer imediato, como jogos, vídeos ou conversas no WhatsApp. Ainda mais agora, que o estudo autónomo assumiu maior peso no seu quotidiano. A promoção da capacidade de autorregulação (estabelecer planos e controlar impulsos) e a perceção de autoeficácia (a crença sobre a própria capacidade de concluir uma tarefa ou resolver um problema) podem atenuar este fenómeno problemático, mas comum na educação.

A autorregulação e o peso da puberdade Vários estudos sobre a procrastinação académica revelam a existência de uma falha na aprendizagem da autorregulação - isto é, da capacidade do jovem para direcionar o seu comportamento e controlar os impulsos com a finalidade de cumprir objetivos. A protelação das tarefas escolares tem sido relacionada com o desenvolvimento do cérebro adolescente, não se tratando simplesmente de uma atitude de preguiça ou esquecimento.

A boa notícia é que também é na adolescência que essa falha pode ser resolvida, dada a janela de oportunidade no desenvolvimento das capacidades executivas e de planeamento, uma vez que dependem principalmente do córtex pré-frontal (uma zona do cérebro que não atinge a maturação antes dos 20 anos). Este comportamento é igualmente visto como uma máscara psicológica, explicada pela tentativa de isolar as repercussões do fracasso na autoestima - atribuindo as suas causas a um erro de estratégia e não à falta de capacidade. O foco na estratégia permite transferir a culpa pelos maus resultados para fatores externos. E, independentemente do resultado, a autoestima parecerá sempre intacta.

Se falhar pela questão do prazo, o aluno pensará que "se não tivesse esperado até o último minuto, teria feito muito melhor". Mas se, por outro lado, conseguir ser bem-sucedido, os sentimentos de valor próprio aumentam, porque os resultados desejados foram alcançados, apesar de ter adiado a tarefa ao máximo. Martin Covington, conhecido como o arquiteto da teoria do valor próprio, afirmava que é da nossa natureza estarmos dispostos a "suportar as dores da culpa, em vez da humilhação da incompetência".

Aliando esta tendência humana à fase de desenvolvimento com maior peso no processo de construção da identidade, não é de estranhar que este seja um comportamento comum nos adolescentes e que os mais seguros quanto à sua identidade sejam assim menos propensos à procrastinação. Cinco maneiras de incentivar os alunos a não procrastinar O que podem fazer os professores?

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