João Carlos Espada: "Livros para o Natal (II)"

Felizmente, temos este ano vários livros portugueses de rara qualidade para oferecer e ler no Natal - e todos eles exprimem um pluralismo tranquilo, em marcado contraste com o primitivismo tribal.

Começo por uma obra académica de homenagem a uma grande académico: Manuel Braga da Cruz. O livro reúne mais de sessenta contributos - na forma de ensaios e de testemunhos - sobre a obra e sobre a personalidade marcantes do homenageado (Universidade Católica Editora, 2020). Manuel Braga da Cruz foi Investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, fundado pelo saudoso Adérito Sedas Nunes. Dirigiu a revista Análise Social durante mais de uma década, fundou e foi o primeiro presidente da Associação Portuguesa de Ciência Política, tendo ainda sido Reitor da Universidade Católica durante três mandatos (o primeiro reitor leigo, por sinal). A homenagem pessoal que lhe é agora prestada é acima de tudo uma homenagem à ideia perene de Universidade - como lugar da busca pluralista da Verdade, do Bem e do Belo - que Manuel Braga da Cruz sempre defendeu e de que foi exemplo inspirador.

Outra obra académica de relevo é História da Filosofia Política, (Editorial Presença, 2020), sob coordenação de João Cardoso Rosas, professor de Filosofia Política na Universidade do Minho. Como é referido na abertura, "pela primeira vez em Portugal, um grupo de [19] docentes e investigadores [de cinco instituições portuguesas e quatro estrangeiras] decidiu juntar esforços para elaborar de raiz uma História da Filosofia Política." O resultado foi um muito estimulante convite ao estudo da tradição pluralista ocidental de conversação a várias vozes, diferentes e muitas vezes rivais, - na comum procura da Verdade, do Bem e do Belo. Ainda no plano académico, mas também com dimensão ensaística, temos mais um notável livro de António Barreto: Três Retratos: Salazar, Cunhal, Soares (Relógio dÁgua, Junho/Setembro de 2020). É um livro que dá que pensar, como em regra é o caso com as obras de António Barreto. Aqui ficam as palavras finais: "Salazar baniu a liberdade. Cunhal utilizou-a. Soares cultivou-a. Dos três se dirá para todo o sempre que foram o que foram porque a população, o povo, os seus conterrâneos e as instituições o quiseram ou deixaram. Com medo ou com voto. Activa ou passivamente. Com obediência, resignação ou entusiasmo." 

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Nota: Este artigo faz parte da versão exclusiva para assinantes do Observador.