Cátedra de Estudos Bíblicos Judaicos e Cristãos | Uma ponte para a paz
“Neste tempo em que vivemos, com uma guerra que está a ser travada, este é verdadeiramente um acontecimento simbólico", foi com estas palavras que a Reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil saudou a nova Cátedra de Estudos Bíblicos Judaicos e Cristãos | Isaac Abravanel - Damião de Góis, da UCP, apresentada a 29 de março, que diz esperar ser “uma ponte a ser atravessada por todos. Uma ponte em tempos de guerra”.
A Reitora felicitou a Faculdade de Teologia, o Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (CITER) e em especial a diretora da Cátedra Luísa Almendra pela “resistência e esforço para verdadeiramente tornar possível esta Cátedra, que estava determinada a implementar na Católica, conseguindo ultrapassar todas as dificuldades”.
Isabel Capeloa Gil referiu estarmos perante “um marco essencial para o estudo da teologia e para a universidade, como uma prova da Paz, que é o que a universidade é, para usar o conhecimento na procura, desenvolvimento e melhoria da condição humana".
Já Luísa Almendra, salientou a “necessidade de reforçar o diálogo inter-religioso como uma contribuição para a paz", acrescentando que “durante muitos séculos, em vez de serem considerados um património comum, os textos bíblicos eram vistos como fonte de divisão”.
O passo agora dado “tem um grande potencial para ser uma excelente contribuição para o diálogo cristão judeu, mas também para o notável projeto da Universidade Católica Portuguesa, uma grande universidade energizada pelo objetivo final de utilizar a ciência para construir um mundo melhor e promover uma vida digna para todos”, referiu.
“Acreditem connosco no poder do conhecimento fiável e do verdadeiro diálogo como os construtores mais sólidos da humanidade e da paz", foi o desafio deixado no final do discurso por Luísa Almendra.
Também presente na cerimónia, Alexandre Palma, diretor do CITER, explicou como as sagradas escrituras são, para judeus e cristãos “o nosso lugar de encontro”; “o estudo é o caminho” e “o diálogo é o nosso método”, razões que culminam na criação da Cátedra que agora “dá corpo a um esforço maior e mais vasto do CITER, esforço de trazer a Teologia e os Estudos da Religião, cada vez mais, para a agenda da investigação universitária”.
Sobre as razões que tornam esta Cátedra tão importante, a oradora convidada Amy Jill Levine (Hartford International University for Religion and Peace), destacou quatro ,“primeiro, os textos assumem novos significados na presença do outro"; "segundo, quando nós judeus e cristãos lemos juntos, aprendemos mais sobre as tradições uns dos outros, mesmo quando vemos novos significados nos textos que partilhamos"; "terceiro, quando nós judeus e cristãos lemos juntos, podemos corrigir erros comuns que cometemos uns sobre os outros"; "finalmente, quando nós judeus e cristãos lemos juntos, podemos ver não só como lemos de forma diferente, mas também porquê".
Sob o tema “Estudar em conjunto”, também o orador convidado Etienne Vetö, (Universidade Pontifícia Gregoriana), referiu que “um genuíno conhecimento da história tradicional judaica permite um renovado conhecimento de Jesus e uma melhor compreensão dos seus ensinamentos”.
Confessando que os seus “alunos ficam muitas vezes chocados ao descobrir que quase todos os ensinamentos de Jesus podem ser encontrados em diferentes formas na literatura rabínica”, salientou que o estudo conjunto é “um estimulante para uma fé cristã mais exata e completa em Jesus Cristo como Messias" e que "a Igreja não pode existir e não pode ser ela própria, sem uma relação viva, presente, com a comunidade viva do povo judeu".
A sessão contou uma mensagem do cardeal D. José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário da Santa Sé, que saudou os responsáveis pela concretização da cátedra, desejando que, se a sagrada escritura é a alma da teologia, então que a Cátedra “possa ser a alma da Teologia como ciência em Portugal, e que os estudos bíblicos sejam um lugar de fronteira, que inspiram aquilo que a teologia pode hoje ser como lugar de diálogo e encontro com as outras ciências”.
Convidados desta sessão, os estudantes da Faculdade de Teologia da UCP, surpreenderam os presentes com a interpretação de duas músicas em hebraico, “Hine ma tov” e “Shomer Yisreal”.
No final da apresentação da Cátedra, o Magno Chanceler da Católica, D. Manuel Clemente, celebrou esta promessa de leitura conjunta, recordando a história do Arcebispo de Paris, Cardeal Jean-Marie Lustige, que se considerava “um daqueles judeus que reconheceu Jesus como o Messias.”
“É muito bom prever o que daqui se seguirá”, concluiu D. Manuel Clemente.
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Quinta, 31/03/2022