"Deus e tu" por Padre Miguel Vasconcelos
Não estamos, para dizer o mínimo, a atravessar o melhor Outono das nossas vidas.
A guerra na Ucrânia ainda nos ocupa o pensamento e o coração, e temos assistido a uma violência especialmente dramática no Médio Oriente, com uma crise de proporções inauditas a instalar-se entre Israel e o Hamas. Também o panorama político não é especialmente promissor de um futuro melhor, e a época festiva que se aproxima é, para muitos, um tempo de sentimentos mistos, em que as memórias felizes da infância contrastam com as fragilidades e as divisões que tantas vezes marcam a nossa vida presente.
E é nesta época em que as noites se tornaram mais longas e os próprios dias estão mais escuros que o Advento nos surpreende. O Advento é um tempo de espera e de preparação para algo melhor, assim o desejamos. Com efeito, na brevidade dos dias e na escuridão das noites, vemos uma luz irradiar; é essa a mensagem do Advento, como recorda o profeta Isaías: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar» (Is 9, 2).
A luz irrompe entre as trevas e brilha onde menos se espera. Esta certeza que nos vem da fé não é uma perspectiva mais ou menos ingénua ou alienada da realidade, e não significa que a vida se tornará mais fácil para algum de nós, ou que no panorama mundial a paz se imporá de algum modo. Significa, antes, que, no meio da noite escura, a luz da madrugada põe a descoberto que na tribulação e na angústia não estivemos sozinhos, porque Deus esteve connosco. Deus, criador do mundo, que os céus não podem conter, fez-se um de nós, olhou-nos de frente e conheceu-nos, Ele mesmo abraçou as tribulações e as angústias e conheceu por dentro, na primeira pessoa, a provação deste e de tantos outros Outonos.
Como nos disse o Papa Francisco, quando visitou o nosso campus, «procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos são dolorosos - estamos a viver uma terceira guerra mundial aos pedaços -, mas abraçamos o risco de pensar que não estamos em agonia, mas em trabalho de parto; não estamos no fim, mas no início de um grande espetáculo».
Deus está connosco, Deus é connosco, e oferece a sua presença a quem a quiser aceitar.
Esta é a grande esperança que o Advento promete e garante, e que pode ser nossa, à medida que esperarmos e nos prepararmos para celebrar o Natal.
Padre Miguel Vasconcelos