Laura Anahory: “Tudo é possível na Animação.”
Laura Anahory tem 25 anos e é mestre em Som e Imagem, na especialização em Animação, pela Escola das Artes, Campus do Porto da Universidade Católica Portuguesa. Licenciada em Design de Comunicação, desde cedo que vive fascinada pela criação de personagens. Vive entre a Animação e o Real, mas, como nos conta, “a Animação toca sempre a vida real.” A sua curta-metragem O Pássaro de Dentro ganhou uma menção honrosa na categoria de Escolas no âmbito da Festa Mundial da Animação 2024. Sobre a experiência na Católica: “Aprendi a colaborar e a trabalhar em equipa.”
O que é que a trouxe para o mundo das Artes?
O meu contexto familiar foi determinante. Metade da minha família são professores e a outra são artistas. Desde muito nova que convivo com as Artes, tanto com a música como com o desenho.
É licenciada em Design de Comunicação e mestre em Som e Imagem. Porquê este percurso?
É uma boa pergunta, porque, na verdade, não tinha certezas do que queria fazer profissionalmente. Sabia que queria explorar diferentes áreas, sabia que queria desenhar e com um foco especial na criação de personagens. Sempre olhei para a formação como parte essencial de um percurso e, acima de tudo, sempre percebi que a nossa formação deveria ser diversificada. Comecei com o Design e depois fiz uma Pós-Graduação em Ilustração e Animação, ambos os cursos na ESAD. Depois surgiu a oportunidade de fazer o Mestrado em Som e Imagem na Escola das Artes da Universidade Católica.
“O meu interesse maior na Animação é a transformação do corpo.”
Porquê a Católica e o que é que foi mais marcante durante o mestrado?
Estava eu a terminar uma Pós-Graduação em Ilustração e Animação quando ouvi falar do Mestrado em Som e Imagem da Católica. Eu sabia que queria continuar a explorar a vertente da Animação e, por isso, fazia sentido candidatar-me. Através do Mestrado, descobri como é que se trabalha em equipa, porque ninguém consegue fazer um filme todo sozinho. A experiência na Católica foi importante a muitos níveis, mas sobretudo nesta vertente da colaboração. Aprendi a colaborar e a trabalhar em equipa. Tive contacto com professores que me marcaram muito e com quem tive oportunidade de construir uma relação. A orientação que recebi por parte de alguns professores foi essencial. Sempre me encorajaram a aprender coisas novas e a fazer melhor.
Porquê o fascínio pela criação de histórias e personagens?
Cresci a ver cartoons e animes. Fez parte do meu crescimento e marcou-me imenso. Passava tardes, deitada no chão, a desenhar personagens. A Televisão teve uma importância enorme. Era na TV que eu via todas aquelas histórias que me inspiravam. Uma vez, a minha tia ofereceu-me A Viagem de Chihiro e foi revolucionário para mim. Não queria outra coisa, porque aqueles desenhos contavam uma história com a qual eu me relacionava diretamente. E para mim, na altura, era tão natural, e fácil até, desenhar personagens e imaginá-las em diferentes contextos, representar os outros ou até a mim própria em diferentes situações do dia-a-dia.
Porque é que a Animação pode ser mais interessante que o real?
Porque a Animação é uma extensão da vida real. A Animação toca sempre a vida real.
Que área mais gosta de explorar na Animação?
O meu interesse maior na Animação é a transformação do corpo. Por exemplo, quando, na vida real, se sente uma dor no nosso corpo, o corpo não muda de forma, o corpo permanece igual aos olhos dos outros. Mas na Animação é possível pôr o corpo a falar essa dor. Podemos pôr o corpo a contrair e a expandir, podemos dar expressão. Na Animação, o corpo é metamorfósico. É a área que mais me interessa explorar.
Não há limites para a expressão?
Não há limites físicos. Tudo é possível na Animação.
“O Pássaro de Dentro consiste numa autoexploração do meu próprio corpo e da minha mente.”
A Criatividade trabalha-se?
A Criatividade é uma capacidade que se trabalha, como tantas outras. Não posso dizer que sou extremamente criativa. Tenho muito para aprender no que à Criatividade diz respeito. Mas, acredito, que a Criatividade surge das experiências pessoais que temos e também das perspetivas que temos de outros artistas. Eu não posso desenhar ou criar aquilo que não conheço.
Qual foi o projeto final do Mestrado?
O filme chama-se “O Pássaro de Dentro”. Consiste numa autoexploração do meu próprio corpo e da minha mente. Também me inspirei no livro O Corpo Não Esquece, uma obra sobre a ligação entre a mente e o corpo e como a mente altera fisicamente o corpo. Este foi o ponto de partida para os meus desenhos. O filme é sobre uma mulher que tem um pássaro que vive dentro do corpo dela e ela não consegue lidar com a existência do bicho. Ao longo do filme eles interagem e o corpo da mulher vai-se alterando. Este projeto recebeu uma menção honrosa na categoria de Escolas no âmbito da Festa Mundial da Animação 2024.
Que importância atribui à distinção?
Tem sempre importância, porque significa que alguém reconheceu valor no nosso trabalho. Depois de um ano intenso a trabalhar naquele filme, soube bem saber que alguém apreciou e que fui na direção certa.
Fazer um filme de animação implica fazer muitos desenhos e implica desenhar, muitas vezes, a mesma personagem. Quantos desenhos fez para o filme O Pássaro de Dentro?
Nunca fiz as contas, mas o meu filme tem 6 minutos de duração. Há alturas do filme em que para cada segundo foi necessário desenhar cerca de 12 desenhos. É fazer as contas (risos).
Um filme de Animação imperdível?
Recentemente vi o filme “In this corner of the World”. É sobre a Guerra. Como é que as vidas das pessoas e das famílias são afetadas pela guerra? Tendo em conta o contexto que vivemos atualmente, parece-me ser um tema que merece a nossa reflexão.
Pessoas em Destaque é uma rubrica de entrevistas da Universidade Católica Portuguesa.