Daniela Silva: "O ensino que não satisfaz"
É inegável que o ensino foi das áreas mais penalizadas no decurso de 2020. Ainda que a questão tenha merecido escassa comoção pública, a interrupção das aulas deixou em evidência fragilidades do contexto socioeconómico dos alunos e problemas estruturais do sistema educativo actual.
Desde logo, prevalece um ensino que mantém a família apartada e desinformada daquilo que acontece em ambiente escolar. Ao carácter turvo do calendário lectivo que se vai desenrolando com ínfimos contactos entre a escola e as famílias, acresce o desinteresse, o baixo padrão de exigência na óptica do consumidor, ou a reduzida capacidade reivindicativa dos encarregados de educação que não têm meios para enfrentar um modelo de ensino fechado em decisões administrativas e pouco sensível às necessidades e preferências dos alunos e famílias. Veja-se, por exemplo, a facilidade com que o Governo acorreu à alternativa informática durante o confinamento. Dando como garantidos o acesso a meios informáticos e o apoio familiar ao estudo, o Estado central deu provas de alienação face ao país real.
A cultura que menoriza o papel das famílias contribuiu para lançar um desafio caótico às mesmas durante a longa interrupção lectiva. Terão existido exemplos louváveis de escolas e autarquias que se mobilizaram para acautelar as fragilidades dos alunos mais afectados pela falta de meios. Porém, não é possível fazer milagres quando já subsistem outras insuficiências de base. Pensemos na importância de inculcar métodos de trabalho firmes e organizados às crianças desde muito cedo. Não é possível formar gerações cívica, intelectual e economicamente capazes se não forem treinadas na autonomia e no hábito de confronto real com as responsabilidades pessoais. Aspectos que têm vindo a ser desvalorizados.
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