"Não me parece que haja médicos a mais em Portugal, julgando pelas listas de espera nos hospitais"
António Medina de Almeida ocupa desde março o cargo diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa. A poucos dias de ter início o primeiro curso privado em Portugal, põe em causa a tese do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas de que há médicos suficientes em Portugal. A formação nesta nova faculdade custará 100 mil euros, em seis anos, mas Medina de Almeida não considera a faculdade que dirige seja elitista, apesar de reconhecer que é um fator que restringe a opção apenas aos que consigam pagar.
Ao final de décadas de espera, a Universidade Católica Portuguesa (UCP) vai abrir o primeiro curso de Medicina numa escola de ensino superior em Portugal. No próximo dia 13, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro António Costa, vão inaugurar o novo pólo da UCP em Rio de Mouro, Sintra, nas imediações do Tagus Park.
Neste primeiro ano, foram recebidas 600 candidaturas e a UCP selecionou 50 candidatos. A nota de acesso variou entre os 19,3 e os 17,4 valores. Para o ano o número de alunos irá duplicar. O movimento para criar mais oferta no ensino superior nesta área − depois de muitos anos de estagnação − parece aliás estar a andar a todo o gás, pelo menos tendo em conta as palavras do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, que quer abrir mais três cursos de Medicina até 2023: em Aveiro, Vila Real e Évora.
Em entrevista à Renascença, o diretor da Faculdade de Medicina da Católica, António Medina de Almeida, fala sobre as críticas que foram apontadas à abertura da faculdade que comanda e explica porque é que vai custar 100 mil euros a quem queira que o filho estude naquela instituição.
O médico, que também é diretor de serviço da unidade de hematologia do Hospital da Luz, − unidade que é a principal parceira clinica da UCP neste projeto − rejeita a ideia de que haja médicos a mais em Portugal. E o argumento de que existe oferta formativa em excesso desafia, na sua opinião, a lógica: "Quando há um novo curso de economia ninguém pergunta se há economistas a mais em Portugal, ou não. É mais uma oferta, quem quer vai, se o curso for bom vai ter sucesso, as pessoas vão querer ir porque tem saída profissional",
O curso de Medicina da Universidade Católica diz querer inovar introduzindo desde o primeiro ano uma componente prática à formação dos futuros médicos. Em que medida é que isso é uma mais-valia, e porque fazia falta à formação superior desta área em Portugal?
Antes de mais nada, tudo o que seja um acréscimo de oferta formativa faz sempre falta. Não falo só por Medicina, falo de qualquer curso superior. Quanto mais oferta formativa houver, mais escolha nós podemos dar às pessoas e mais escolha podemos dar aos estudantes para poderem seguir o percurso que querem. Medicina é uma carreira muito vocacional, tem muitos aspetos de competência para além dos aspetos teóricos.
Claro que o nosso curso vai ter todos os aspetos teóricos salvaguardados, e os alunos vão ter que estudar, vão ter que saber todas as partes que todos os outros alunos das outras faculdades vão ter.
Vamos ter integrado no curso, de uma maneira sistemática e assertiva, o ensino de competências. Vamos ensinar a comunicação, como é que se comunica com o doente, como se comunica com familiares do doente, como é que se reage em situações diferentes, de maneira aos alunos quando chegarem à fase profissional estarem preparados.
Vamos ter centros de simulação pré-graduado, um centro de simulação clinico pós-graduado no Hospital da Luz de Lisboa − onde os alunos vão poder treinar várias técnicas e várias competências inerentes à carreira médica de forma a que quando chegarem aos doentes sentirem-se confortáveis e que os doentes também se sintam confortáveis com a competência que veem no médico que têm à sua frente.
Não é que os outros cursos não ensinem a parte prática, mas a grande diferença que temos aqui − e não é exclusivo nosso, é feito noutras faculdades do país como a do Minho − é o de começar desde o princípio este treino sistemático de competências em paralelo com o treino teórico, científico que um médico precisa de ter.
É a primeira vez que um curso de Medicina põe entrevistas como critério de seleção. Porque é que o fizeram?
As entrevistas foram uma experiência muito importante para nós, e acho que também para os alunos. Os candidatos sentiram-se valorizados por serem entrevistados, sentiram que a escolha era pessoal.
Ou seja, a faculdade escolhia-os pessoalmente e avaliava-os pessoalmente e não só por umas notas e uns números que depois vêm numa pauta. Também permite identificarmos os alunos que tenham mais motivação e mais caraterísticas que nós consideramos importantes.
Vale 15% da nota final. Na nossa nota de candidatura, que usamos para seriar os candidatos, as notas do secundário representam 85%, e os outros 15% consistem na resposta a umas perguntas que nós fizemos. São respostas escritas a perguntas motivacionais, como "Por que é que querem estudar na Católica?" ou "Por que é que querem ser médicos?".
Isto não desvaloriza a capacidade científica e pedagógica dos candidatos?
De maneira nenhuma, tanto que a parte científica e académica conta 85% para a nota de seriação. Não estou a escolher um aluno só com base na entrevista. Para ter uma nota boa para entrar, dentro dos 50 alunos, tem de ter uma boa nota de secundário.
É um somatório, é um valorizar de outras caraterísticas, juntamente com as caraterísticas académicas.
Já disse em entrevistas que: "a nossa formação será a melhor do país em Medicina". Não é arriscado dizê-lo quando está a falar de outras escolas com uma história tão longa de ensino?
O que devo ter dito é "espero que a nossa formação seja a melhor". Tem toda a razão, não posso dizer que a nossa formação vai ser a melhor. Temos excelentes médicos em Portugal, formados pelas faculdades portuguesas, não podemos ter essa presunção, nem quero.
A minha postura sempre vai ser a de uma faculdade nova que quer colaborar com as outras faculdades, que quer trazer uma mais-valia para o país juntamente com as outras faculdades e não em dissonância de maneira nenhuma.
Mas ao introduzirmos uma oferta formativa diferente, uma coisa nova no país, vamos ter alguns fatores de distinção. Isto como o Hospital de Santa Maria, o Hospital de São João, têm fatores que os distinguem uns dos outros e que são muito importantes. Isso é o que traz a riqueza da educação no país, cada um ter os seus pontos fortes de maneira a que todos juntos consigamos aumentar o perfil e a excelência do ensino médico em Portugal.
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