Rui Soucasaux Sousa: "A globalização da economia como dissuasão da guerra"
Vivemos num mundo economicamente globalizado há muitos anos. Neste período, temo-nos apercebido de aspetos positivos e negativos deste fenómeno, e temos assistido a inúmeras discussões sobre como aperfeiçoar o sistema económico global. A mais recente destas discussões aconteceu devido à pandemia. Em particular, a perturbação das cadeias de abastecimento globais e a sua dependência da Ásia levaram as economias ocidentais a equacionar o "reshoring" ou "nearshoring" da sua indústria, pelo menos em setores críticos como o dos componentes eletrónicos.
A guerra na Ucrânia vem agora suscitar unia nova reflexão sobre este tema. Por um lado, reforça a noção que emergiu da pandemia de que é desejável uma maior regionalização das cadeias de abastecimento, que introduza redundância, resiliência e, diminua dependências excessivas de blocos geográficos e políticos da cadeia. Por outro lado, a guerra introduz um fator novo e que tinha estado arredado das discussões até ao momento: a configuração da economia e cadeias de abastecimento globais pode ser um importante instrumento para dissuasão da guerra convencional. Em particular, ainda que possa haver uma regionalização mais acentuada das cadeias, há uma dimensão positiva na coexistência de interdependências económicas verdadeiramente globais. Neste caso, o preço de um ator perturbar o sistema é muito alto, incentivando a negociação. Não obstante se estar a verificar uma grande distância entre as declarações de Putin e as suas ações, não deixa de ser interessante a sua afirmação antes de o conflito rebentar, de que a Rússia fazia parte da economia global e que não pretendia prejudicar esse sistema.
Nota: Pode ler o artigo na íntegra na edição impressa do Jornal de Negócios de 8 de março de 2022.
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