Paulo de Almeida Sande: "Em defesa da Europa: os custos da não-Europa"

A covid-19 ficará na História como o vírus que parou o Mundo. Algo impensável fora do ecrã e dos círculos restritos dos estrategas de risco. A covid-19, na opinião de muitos, fez também soar o toque a finados pela União Europeia (UE), cuja desagregação, asseveram, é agora certa.

Estão errados. Esta crise prova três coisas:

Primeiro – Sem UE, Banco Central Europeu, fundos, medidas de emergência, etc., não teríamos, nem teria país algum na Europa, a quem recorrer. Há 30 anos, um estudo avaliou o custo da “não-Europa”. Era enorme. Imagine-se hoje: não haver mercado interno. Moeda única. Liberdade de circulação. Padrões regulatórios comuns. Qualquer voz europeia nos areópagos internacionais. Projectos comuns. Ou investigação europeia. E tanto mais que nenhum artigo comporta. Não haver nada disso, como querem populistas e políticos mal informados. E, já agora, se não houvesse Europa, e Bruxelas, e a Comissão, quem acusariam os seus inimigos de todos os males?

Segundo – Falta mais e não menos Europa. Se a UE não vai mais longe na saúde, é por não ter poderes. Se não aprova instrumentos financeiros em poucas horas (demora umas semanas…), é por essa aprovação depender da unanimidade dos 27 Estados-membros. Basta um não querer…

Terceiro – Apesar de tudo, a UE faz mais pelo conjunto dos seus membros do que qualquer outra organização, país ou conjunto de países. Não é suficiente? Mas é muito mais suficiente do que seria sem ela – e voltamos ao primeiro ponto.

Os custos da não-Europa

Caso a integração europeia cessasse, o que ficaria em seu lugar? No lugar do mercado interno, em que mercadorias, serviços e capitais circulam livremente? Do euro, uma das moedas mais influentes do mundo, que impede a armadilha da desvalorização constante responsável pelo empobrecimento de países como Portugal antes da UE? Da regulação comum em actividades por natureza desenvolvidas além das fronteiras nacionais, como as compras online, a concorrência internacional, a aviação ou o ambiente? E o que ficaria da livre circulação das pessoas, senão fronteiras fechadas, intransponíveis riscos traçados no mapa?

São exemplos. Talvez bastem duas palavras: ficaria o Vazio. Proteccionismo e guerra comercial, sendo os países mais pobres mais prejudicados; dezenas de moedas, a custar milhões a empresas, governos e cidadãos; uma confusão de normas regulatórias, com recurso acrescido a mecanismos internacionais de resolução de litígios em detrimento do contencioso institucional ou de Estado, maná para certas profissões; e de novo um continente fechado, onde viajar voltaria a ser difícil.

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